O Brasil tem problemas que se repetem ao longo dos anos. Impossível apontá-los todos, mas, com boa vontade e esforço, há sempre a possibilidade de cravar os olhos em determinados tropeços. Quem se atualiza sabe que o país acabou de perder a Livraria Cultura --- mais uma! ---e, assim, vamos ficando cada vez mais pobres. Sim, porque são nas grandes livrarias que vamos encontrar obras valiosas, verdadeiras joias, que contribuem para ampliar, enriquecer e renovar acultura geral. É a boa leitura que faz o hábito da imprecisão ceder lugar á solidez, á profundidade que nos dão o quilate da vigorosa maturidade da inteligência.
Certamente, grande parte dos brasileiros, desta e de outras gerações, ressente-se dos defeitos do meio social e do sistema de educação em que se formaram. As perturbações políticas, econômicas e sociais a que estamos constantemente submetidos obrigam-nos a sacudir os ombros dos sofismas de todos os mercadores de ideias. Com dificuldades agravadas e desaparelhada de armadurade sólida aprendizagem, temos tentado lutar contra falácias que impuseram ideais enganadores e confusamente analisados, formando no Brasil uma "consciência educacional" aleijada e mal assimilada.
Temos consciência de nossas fraquezas ede nossos defeitos, já dizia Fernando de Azevedo há décadas. E a frase continua válida porque os problemas continuam os mesmos. A geração atual não é nem podiaser melhor do que as gerações que nos precederam. Devemos ganhar o pão com o suor de nosso rosto, isto é, com esforço, lutando contra todas as dificuldades e subindo da confusão para a claridade e precisão. Devemos libertar-nos do utopismo, que promete o céu na terra, que substitui a realidade penosa pelo sonho entorpecente, o brilho pela solidez, as atividades construtoras de uma geração viril pelas esperanças e promessas enganadoras e irritantes.
Infelizmente,os velhos e arcaicos princípios ainda não foram desenraizados, sistemas rígidos continuam inabalados, a rotina prossegue sua trilha desgastada e o que mentes torpes defenderam ontem continua valendo hoje. A rivalidade impera sobre a emulação fecunda e os contatos frequentes em lugar de promoverem a harmonia acirram as desconfianças e os contrastes. São velhos erros recorrentes que nem décadas de uma educação anacrônica conseguiram superar.
Não alimentamos ilusões sobre as dificuldades de toda a ordem para a reconstrução cultural de grande alcance evastas proporções. É difícil alcançar algum êxito dentro de um panorama tão desgastado em que até mandatários, legisladores mantenedores da ordem nacional, educadores alguns até de renome, religiosos e políticos de toda ordem estão ainda amordaçados por princípios arcaicos e superados, estrangulados por insensibilidade e hostilidade contra preconceitos e prevenções enraizadas.
A hora crítica que estamos atravessando hoje no Brasil não nos permite hesitar um só momento diante da tarefa que a consciência nos impõe de enfrentarmos problemas postos por uma sociedade dividida que se odeia e se agride. Está passando da hora de vivermos frivolamente como se estivéssemos envoltos numa cortina de fumaça. Devemos ter caráter e refletir sobre o movimento de nossas ideias, sobre os acontecimentos dos últimos meses e o que podemos esperar deles. Se não agora, quando? É preciso fazer prevalecer ideias claras e agir em relação aos problemas atuais com um sim ou não, de modo decidido e inabalável. Os problemas se repetem e continuamos nas nuvens, como se não estivéssemos envolvidos. Não são senão as fortes convicções e as ações decisivas que fazem os grandes povos.
Apesar de nosso esforço ao escrever estas linhas, não estamos convictos de haver convencido alguém ou de achar que nossa mensagem tenha sido entendida.
Dra. Maria da Glória De Rosa
Pedagoga, Jornalista, Advogada
Profª. assistente doutora aposentada da UNESP